domingo, 3 de setembro de 2017

A Foice

A ceifa é necessária. Sempre. Um plantio abandonado vira mata, terreno baldio, coisa selvagem. Não sei se isso é ruim, mas sei que será preciso plantar de novo, em algum momento. E desbravar terra selvagem não é tarefa fácil nem divertida.

É preciso amanhecer com o Sol, tomar pra si a foice e ceifar os campos de sua alma. Semeastes vento? O que te esperas é farta colheita de tempestade, mais cedo ou mais tarde.

Podes até procrastinar o trabalho árduo na fazenda da tua mente, no entanto volto a dizer que é inevitável. Para novos amores e amizades, é preciso limpar o terreno dos antigos.

Ceifando o trigo dourado e seco, separa-se os grãos para consumo, devolve-se à terra o resto da planta, que servirá de adubo para a próxima plantação - provavelmente de alguma espécie capaz de consumir nutrientes diferentes e dar ao solo certo descanso.

Ceifar a alma é abrir espaço. Aquilo que te faz bem, impulsiona, ajuda a evoluir e você escolhe manter: isso ficará por perto. O que te atrapalha, por maior que seja o apego, melhor abrir mão.

A ceifa é o tempo da despedida. Não é sinônimo de falta de afeto. Significa o fim de um ciclo. A vida segue, independente do nosso querimento. É preciso ter maturidade para reconhecer o momento e encarar o desafio dolorido.

De foice em punho, caminhe até os pomares e hortas de seu espírito e trabalhe. Medite sobre a sua colheita, a qualidade dos frutos, o que tem plantado. Quando todo o dourado do trigo jazir no chão, será preciso abrir pequenos ventres na terra e acomodar novas sementes. Pense bem no que vai depositar nos sulcos do teu coração. Lembre-se que a ceifa virá novamente e terás que recolher os frutos mais uma vez. Repito: é inevitável.

(03/09/2013)

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